English French German Spain Italian Dutch
Traduza-me em sua língua e versifique-me em tua boca.Sinho Livre

Adeus à mocidade

Link da imagem ilustrativa
http://setorsete.blogspot.com/
Caros amigos,
Também já fui moço.
E por conseguinte,
Já acreditei na mocidade.
Em seus propósitos políticos,
Em suas ideologias
E em sua idoneidade.

Hoje, resignado,
Não sou mais que uma murcha flor
Em um vaso abandonado,
Esperando ser removida.
Ou posta ao Sol,
Esperando ser...
Regada.
Fartei-me de tantas promessas,
De tantas farsas.
Meu olhar penetra na falsa pele
E revela-me o prazer das maquiagens.
Tudo em mim causa desconfiança,
Do sacrifício ao alcance da glória.
Em mim, tudo passa,
Nada permanece.
E por mais que as emoções me dominem...
Meu corpo é um recôndito de velhas mobílias.
E o meu coração é pacato e dócil, não trepida jamais.
Não compreende mais revoluções nem .
E quase se exaure de tanta monotonia.
Mas se surgem batalhas,
Ah!... se surgem batalhas...
Ele logo se metamorfoseia em praga
E perde toda a calma acumulada.
Já não aceita as derrotas.
Então adere a todas as revoltas,
Num breve anseio de reconhecimentos e conquistas.
Mas logo ao término dos confrontos
Volta a dormir profundo,
Chegando, às vezes, a confundir
Vivos e defuntos.

Sinais sutis do abandono da fé e da razão

Abandonei de vez a razão.
Já não reconheço mais minha lucidez,
Pois minha insanidade a estrangulará.
Existem, como eu,
Tantos homens na vida frustrados.
Talvez, por terem em solo infértil a sua fé semeada;
Talvez, por terem tido regularmente suas miseráveis vidas saqueadas
- Gerando, assim, frustração ao ser...
-Gerando, assim, comoção e dor na alma.

Hoje é preciso mais que um simples aparato de investigação
Para encontrar em mim esperança.
(desculpem-me os fundamentalistas...)
Mas a vida há muito abortou-me.
Aliás, amigos...
A vida mais que abortou-me,
Ela convenceu-me de minha inaptidão.
Mas devo admitir
Que nunca fui mesmo um bom vivente
- À toa, por muitas vezes corri perigo...
- À toa, por muitas vezes feri meu coração...
Tenho a consciência de quanto é breve a vida humana
E que às vezes, a mesma dura uma noite de sono apenas.
Todo homem é um poço raso de ideias profundas
Que quase sempre não suporta tanta água,
Deixando sempre transbordar a fonte.
Sinto-me sempre tão distante das coisas e dos homens...
Sinto-me como cria sem criador,
Ou talvez seja isso o que realmente sou
Uma vírgula mal acrescida...
Uma cena teatral mal representada.

Assim sendo,
Tornei-me inconstante por sugestão do vento.
E por sugestão do tempo,
Aprendi a apreciar não ser notado.
Mas parece que o mundo se ergue contra mim a cada instante
- Vem o vento, me enche de terra os olhos...
- Vem a chuva e me afoga os brônquios.

Não sei o que mais me aflige nesse momento:
Acusar a Deus incessantemente
Ou, nas noites frias de solidão,
Amá-lo secretamente.
Fartei-me de tudo nesta vida:
Dos falsos amigos, dos falsos amantes,
Dos sorrisos sem graça gargalhando por nada,
Das flores em meu jardim à espera de água,
Da fé em Deus ainda em mim retida.

O homem é realmente um animal eternamente descontente,
Está sempre em ebulição.
Não passa de um inapto amante,
Um inexato sacristão,
Sempre pronto a abandonar suas preces
Em troca do alívio rápido da dor.
E para se promover na palestra das vãs espécies,
Delata a si mesmo num célere instante.

Restam-me duas verdades apenas;
-Que a grama nasce somente aonde lhe agrada a terra.
- E que se não fosse a morte sempre por perto,
A vida em nada nos interessaria.