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Traduza-me em sua língua e versifique-me em tua boca.Sinho Livre

À espera...

Há muito tempo,
E por muito tempo.
Soube aguardar convincentemente
O dia em que mudaria as coisas ao meu redor...
E confiei-me a isto,
Como quem faz promessas à Deus
Com a certeza que irá cumprí-las.

Essa ideia arraigou-se em mim tão fortemente
Que intervenção cirúrgica alguma
Seria capaz de extraí-la de minha tímida mente.


"Mas o tempo é doença que assusta."

Arranca da juventude toda a força bruta,
Debilitando a forma do corpo robusto de outrora.
Passam-se os anos como passam-se as horas
E o tempo, carrasco de nossos sonhos,
Exerceu sobre mim também sua força sem demora,
Golpeando-me impiedosamente com seu cutelo

Meu corpo,
Então logo envelhecido,
Tornou-se árido e infértil,
Fraco e obsoleto.
Devido a tantos traumas na vida adquiridos,
(a vida nos fornece tantos traumas),
Encontra-se hoje comvalecido.


Qualquer cristal de gelo,
Por mais minúsculo que seja,
Tem o poder de congelar-me a alma.
- Quem sabe somente assim a morte eu protelo.
Não desejo viver para sempre,
Pois ninguém seria tolo o bastante
De desejar a eternidade para si somente.
Pois descobri que o amor pelas coisas e pelos homens
Tem lá o seu prazo de validade.
É como tentar manter uma falsa amizade:
Se um dia falta-lhe a oferenda,
Cessa-se a amabilidade.


Descobri, também,
Que Deus e o destino usam sempre das mesmas táticas.
E que o diabo e a solidão
Se apresentam sempre de mãos dadas.


Mas ainda trago comigo essa deslumbrante esperança,
Que sob a óptica divina, aprimora a existência humana.
E surpreende a reis e tiranos,
E devolve toda a beleza do mundo ao estamagado poeta,
Renovando-lhe a velha silhueta.


Mas a esperança apenas não basta
Para (eu) mudar as coisas ao meu redor.
É necessário evocar outras forças,
Aderir à novas teorias,
Reunir uma nova casta
De poetas, de amantes,de aletófilos...
Pois sozinho e sem alegria,
É tão difícil ter de caminhar por dois.


Proponho reestabelecermos velhos pactos,
Reiventar estratagemas e novos metódos persuasivos.
Promover novas revoluções
(que abarquem os desamados).
E, finalmente,
Pleitear com os vossos advogados
Um novissímo contrato.
"Bem,
proposta imposta.
espero repostas,
sozinho não posso ir longe.
Tenho o barco, mas necessito da tripulação.
Tenho a oração, mas necessito do monge".


Ora, pois,
Já não tenho mais disposição para sofrer,
Não consigo mais restaurar-me tão facilmente como antes.
É verdade que continuo não tendo medo que me abatam,
Mas agora tenho medo de ir à luta e não vencer.


Surgiu no meu coração uma imensa fissura,
Sinal de uma provável erosão
Que vem me assoreando o peito há dias.
(Aí está a real causa da minha dor).
É uma dor estranha, esquisita, confusa...
Vem temperada de um leve exaspero,
É um flagelo que o corpo recusa.
Mas quando falta, me desespero.


É difícl acreditar,
Que a dor, como o homem, também envelhece.
Mas, diferente do animal,
Que tem seu tempo de vida pré-determinado
E isso independe de ser bom, de ser mau,
A dor nem sempre desaparece.
E há dor que acompanha um homem por toda uma vida.
Até mesmo diante do poder de todas as preces...


"Ó Deus, remova minhas dores se puderes."

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Madalena Barranco disse...

Da fissura da alma nasce flor de carne ferida na pele da consciência. Somente assim, caro Sinho, a "flor" pode ser colhida e curada, ou quiçá, regada, com a água que verte dos olhos. Belo, o seu poema. E o tipo de letra que usa me remete a alguém que é consciente de sua eterna busca, agora, em pleno movimento. Foi bom, então, conhecer o seu blog.

Obrigada pela sua mensagem e por me seguir em meu blog "Se eu Flor de Morango". Eu disse "mensagem", porque foi uma mensagem padronizada, e não caracterizou um comentário. Você não me convenceu ainda a participar da ótima ideia de seu sarau.

Obrigada, mais uma vez e um grande abraço,
Madalena Barranco

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