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Traduza-me em sua língua e versifique-me em tua boca.Sinho Livre

Adeus à mocidade

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Caros amigos,
Também já fui moço.
E por conseguinte,
Já acreditei na mocidade.
Em seus propósitos políticos,
Em suas ideologias
E em sua idoneidade.

Hoje, resignado,
Não sou mais que uma murcha flor
Em um vaso abandonado,
Esperando ser removida.
Ou posta ao Sol,
Esperando ser...
Regada.
Fartei-me de tantas promessas,
De tantas farsas.
Meu olhar penetra na falsa pele
E revela-me o prazer das maquiagens.
Tudo em mim causa desconfiança,
Do sacrifício ao alcance da glória.
Em mim, tudo passa,
Nada permanece.
E por mais que as emoções me dominem...
Meu corpo é um recôndito de velhas mobílias.
E o meu coração é pacato e dócil, não trepida jamais.
Não compreende mais revoluções nem .
E quase se exaure de tanta monotonia.
Mas se surgem batalhas,
Ah!... se surgem batalhas...
Ele logo se metamorfoseia em praga
E perde toda a calma acumulada.
Já não aceita as derrotas.
Então adere a todas as revoltas,
Num breve anseio de reconhecimentos e conquistas.
Mas logo ao término dos confrontos
Volta a dormir profundo,
Chegando, às vezes, a confundir
Vivos e defuntos.

Sinais sutis do abandono da fé e da razão

Abandonei de vez a razão.
Já não reconheço mais minha lucidez,
Pois minha insanidade a estrangulará.
Existem, como eu,
Tantos homens na vida frustrados.
Talvez, por terem em solo infértil a sua fé semeada;
Talvez, por terem tido regularmente suas miseráveis vidas saqueadas
- Gerando, assim, frustração ao ser...
-Gerando, assim, comoção e dor na alma.

Hoje é preciso mais que um simples aparato de investigação
Para encontrar em mim esperança.
(desculpem-me os fundamentalistas...)
Mas a vida há muito abortou-me.
Aliás, amigos...
A vida mais que abortou-me,
Ela convenceu-me de minha inaptidão.
Mas devo admitir
Que nunca fui mesmo um bom vivente
- À toa, por muitas vezes corri perigo...
- À toa, por muitas vezes feri meu coração...
Tenho a consciência de quanto é breve a vida humana
E que às vezes, a mesma dura uma noite de sono apenas.
Todo homem é um poço raso de ideias profundas
Que quase sempre não suporta tanta água,
Deixando sempre transbordar a fonte.
Sinto-me sempre tão distante das coisas e dos homens...
Sinto-me como cria sem criador,
Ou talvez seja isso o que realmente sou
Uma vírgula mal acrescida...
Uma cena teatral mal representada.

Assim sendo,
Tornei-me inconstante por sugestão do vento.
E por sugestão do tempo,
Aprendi a apreciar não ser notado.
Mas parece que o mundo se ergue contra mim a cada instante
- Vem o vento, me enche de terra os olhos...
- Vem a chuva e me afoga os brônquios.

Não sei o que mais me aflige nesse momento:
Acusar a Deus incessantemente
Ou, nas noites frias de solidão,
Amá-lo secretamente.
Fartei-me de tudo nesta vida:
Dos falsos amigos, dos falsos amantes,
Dos sorrisos sem graça gargalhando por nada,
Das flores em meu jardim à espera de água,
Da fé em Deus ainda em mim retida.

O homem é realmente um animal eternamente descontente,
Está sempre em ebulição.
Não passa de um inapto amante,
Um inexato sacristão,
Sempre pronto a abandonar suas preces
Em troca do alívio rápido da dor.
E para se promover na palestra das vãs espécies,
Delata a si mesmo num célere instante.

Restam-me duas verdades apenas;
-Que a grama nasce somente aonde lhe agrada a terra.
- E que se não fosse a morte sempre por perto,
A vida em nada nos interessaria.

Repetição

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Eu não consigo imaginar
O que aconteceria então,
Quando um dia
Seus seios repousarem em minhas trêmulas mãos.
E seus mamilos, tão logo contraídos,
Pelo frio toque de minha língua umedecida,
Implorarem, mais uma vez...
Repetição.

Talvez
Mil anjos caídos,
Em sonora aversão aos nossos delitos,
Farão ecoar pelo vasto infinito

Seus sacros divinos cânticos.

BOCA I

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A minha boca traz sempre na garganta
Um grito de doidice pré-moldado,
Que não é constantemente pela língua censurado.
Às vezes fere, às vezes ofende,
Apressando assim a perder a calma santa.

Tenho medo de minha própria língua,
Não me serve a desgraçada.
Mesmo tendo em minha boca sua carcaça enfiada,
Não me acata quando tento silênciá-la.
Um dia de coragem, ainda a deixarei à míngua.

BOCA II

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Existe em cada mundo uma boca Sempre pronta à condenar.
Mas quando tal amarga boca escura,
De quem se arma com a adaga da censura
Proferir-me alguma sentença...
"não deixarei-me jamais desanimar."

Farei que percebam com clareza
O meu desembaraço;
- Que não temo o frio do seu aço.
"Não há metal que me amedronte a carne"
"Não há mortal que me incomodea alma com sua vileza.

BOCA III

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Não reincorporada à força
Ao corpo saqueado,
Este fraqueja ao pensamento desejado.
Deixando cair o homem,
Deixando desfazer-se a farsa.

E a cova funda
Em que permanece a língua agoniada,
Arreganha-se ao ver a dor à alma agregada.
E arreganhada, berra e baila a falsa boca,
Promulgando o seu estertor à moribunda.

Soneto as cartas-sem métrica



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Todos os dias, por anos, aguardava que seu sonho
Fosse-lhe entregue por mãos estranhas.
E asssim desfizessem-lhe as teias das aranhas,
Donde morava seu único demônio.

Um dia, bateram-lhe à porta - Correio!
Correu... arrancou duas cartas da mão alheia
Com os olhos arranhados de areia.
Agradeceu, abriu, leu, que aperreio.

Viver era não tê-las aberto.
Adicionou à vida um novo perfil,
Devolveu seu amor às cartas.

Fez sua autoanálise e concluiu:
- Que envenenem os ratos e pisoteiem as baratas.
Aplicou seu creme antiruga e saiu.

ARREPENDIMENTOS

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Hoje,
Não estou mais em seu coração.
O meu arfar não te sensibiliza mais
E os meus pedidos de perdão não te comovem,
Roubando de minha pobre alma
Toda a minha pouca guardada paz.

E nas noites que me chegam sem parar,
Choro o mais profundo arrependimento;
De quando um dia pude ter-te inteira.
De quando um dia pude abarcá-la à cintura fina
E acender, apenas com um único beijo,
O fogo de tua lareira.

De quando um dia pude fazê-la dançar semi-nua,
Sem que sentisse correr pelo teu ardente dorso
O mesmo vento frio...
Que percorre, na madrugada, as desertas ruas.

De quando um dia pude apreciá-la tão de perto.
De quando um dia pude quase tudo
E hoje é certo...
Não posso quase nada.

Agora espero ansioso por um pressentimento;
- De quando chegar a hora exata,
Te amar com mais ternura,
Com mais abrasamento.
E amar-te com a coragem de quem jamais recua.

E assim torná-la mais querida,
Mais solicitada,
Mais desejada,
E quanto mais puder fazer...
Te fazer...
Mais amada.

Discurso sobre a vida ,o amor,a esperança...

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auribertoeternochocalheiro.blogspot.com/
Não deixe que os homens o(à) intimidem com sua força...
Com suas habéis palavras,
Com seus indiscretos discursos sobre as maravilhas
Do novo mundo,
E toda a fartura que o(à) aguarda.

Não deixe que lhe acovardem
Com seus sarcásmos amorosos
E seus conceitos arrojados sobre a vida.
Nem que o(a) incomodem
Com seus sorrisos mentirosos de políticos viciados,
Que desdenham dos jovens e das prostitutas.

Não deixe que os seus sonhos
Sejam esmagados,
Que sua esperança seja ridicularizada
E que suas diretrizes sejam abaladas.

Não recue diante de seus silenciadores gritos,
De suas pancadas,de suas torturas
Não desista sem antes pronunciar-se.

Tente trasnpor todos os abismos
Mantendo sempre a calma
De quem desconhece despencadas quedas.
Não se renda aos anúncios dos agiotas,
Nem às artrites concedidas pelo tempo.

Resista à todos os empecilhos que virão
Durante a sua ferrenha caminhada.
E quando caminhar...
Caminhe ereto,
Isso a evolução garantiu aos homens,
Do mais sábio, ao mais analfabeto.

Demonstre sua força,sua garra
Mantenha escondida
Sob tua "esclerótica cara"
A neurose de tua derrota preanunciada .
Não duvide de tuas armas,
De tuas táticas,
das tuas defensivas práticas.

Não se precipete ,
Mas também não economize os seus passos.
"O sol pode não querer voltar amanhã"
Demais...preserve o seu apetite.

Recuse desde já
O convite que a morte te enviastes.
Lembre-se de todos os deuses
Quais vc pode recorrer com suas sinceras preces.
Use e abuse de todas as suas armas
Amuletos,mandigas,macumbas,feitiços,sangrias,
Danças,cantos,magias,risos,poesias...

Mas se tudo isso não basta,
Não recue ainda.
Pois temos por trás das nossas falsas faces
E dentro de nossas inocentes almas,
Outra energia.
Guardada nas alegrias que nos invade ao amanhecer do dia,
E quando liberada,
Sufoca toda a antipatia.

É do amor pelas coisas e pelos homens que falo.
Quem disse que o amor anda escasso?
Acredite,o amor ainda persiste
"E o ódio ainda anseia seu derradeiro passo".

E quando não houver mais amor
Na sua voz contida...
E você perceber que seu coração aos poucos
Está perdendo todo o vigor,

E seus olhos se espalharem pelas ruas
À procurar..mansos...
Por amparo;

Lembre-se das pessoas ao seu redor
Que te querem vivo.

O pirilampo e a lua


- Ei, pequenino! O que fazes perdido na escuridão da noite que te envolve e te confunde? - perguntou a Lua ao pirilampo que ali passava.
- Não estou perdido - respondeu o pirilampo com a calma de um santo. - Estou a caminho de casa.
- Mas parece um pouco confuso, sabes realmente para onde ir? - insistiu a Lua.
- Não te preocupes comigo, sei muito bem para onde vou.
- Tudo bem, apenas percebi que a luz que tu geras é pouca para iluminar o teu caminho - sorriu ironicamente a Lua.
- Sempre me esforço para encontrar o caminho de volta para minha casa, mas sempre me vejo resguardado em meu lar no fim da busca - replicou o inseto luminoso.
- Ah, ah, ah... - deu-se a rir como uma dama louca a Lua. Ee acrescentou:
- Tenho pena de ti, pois saibas que trago comigo tanta luz, tanta luz, que sou capaz de iluminar toda a Terra e o "caminho de volta para casa" de todos os seres que nela vivem.
- Alguma única vez supliquei teu socorro? Saiba, dona Lua, mentes para si num aspecto...
- Qual? - perguntou ansiosa a Lua, querendo saber porque mentia.
- Não iluminas toda a Terra, aapenas uma parte dela é banhada pelo teu véu lunático. A outra parte dela é iluminada pelo senhor Sol.
- Mas lá também hei de chegar no momento crepuscular do irmão Sol - disse a Lua.
- Mas quando lá estiveres, aqui faltarás - riu e devolveu a irônica observação o pirilampo.
- O que queres dizer com isso? Que não passo de uma farsa? - indagou, solicitando uma explicação honrosa a Lua. E proferiu em voz alta... - Saiba, inseto, que todos os homens me adoram, os amantes me veneram, os navegantes se orientam por mim. Tenho deuses que carregam meu nome, os mares se agitam por minha causa, assim como suas ondas e marés.
- Estás equivocada novamente em parte. Parece que vives do passado. Os marinheiros tem ao seu dispor tecnologias novas, não precisam erguer os seus olhares para ti, se não apenas para apreciar teu brilho artificial. E se ainda existem deuses que carregam teu nome, eu os desconheço, pois oro a um único Deus, e este não se chama por "Lua".
A lua, nesse instante, já estava com o semblante de quem forjaria uma guerra para se sobrepor às ideias do pequeno inseto.
- O que pensa que tu és? Não passa de um inseto... De um candelabro que insiste em iluminar sozinho uma mansão povoada por seres que necessitam de tua luz. Porém, não tem luz suficiente para todos. És uma fagulha de luz no corredor da vida, sem capacidade de iluminar todos os vãos da mesma. És apenas um pequeno inseto que se esforça todas as noites para encontrar o caminho de volta para sua casa - esbravejou a lua.
- Como já lhe disse antes, nunca supliquei seu socorro. Não por orgulho próprio, mas por jamais necessitá-lo realmente, pois a luz que gero é suficiente para o que ambiciono.
- Ah, ah, ah.... - riu a Lua. E disse, em tom de escárnio... - Eis aqui, bem diante de mim, mais um romântico sem ambição.
- Não me importam os teus pensamentos. És para mim tão importante quanto a escuridão que me acerca ao entardecer. Me fazes lembrar o quão tenho que brilhar. E outra coisa tenho a te falar, cara amiga...
- Diga... diga logo... Tenho mais o que fazer que escutar tuas asneiras...
- Saiba, dona Lua, que as nuvens escuras jamais diminuem meu brilho, pelo contrário, me fazem ainda mais luminoso. Pois fazem diminuir o teu.
A lua já estava possessa nesse instante e quando tentou uma nova reação, foi logo interrompida pelo bravo inseto, que disse:
-Ah!!!!! Não foi eu quem iniciou tal discussão banal e fútil, que não mudarás jamais a minha vida. Reconheço sua grandeza, cara amiga Lua.
A Lua espantada, sorriu soberana diante do reconhecimento do tal inseto, de sua superioridade luminária. Mas o pirilampo não havia cessado ainda, foi apenas interrompido. Então, tomou de volta para si a discussão com o desejo de encerrá-la vencedor. E logo providenciou as palavras finais do embate:
- Diga-me, amiga Lua... O que seria de ti se o irmão Sol se apagasse um dia?
A lua estranhou a pergunta, pois tinha a certeza de que tal profecia jamais se cumpriria, e quando se prontificou a responder, foi interrompida pelo "nano" inseto.
- Deixe que eu respondo por ti - a Lua ficou ansiosa para ver o desfecho da tal hipótese profética levantada pelo pirilampo, que concluiu:
- Se o Sol se apagasse um dia... a única luz que teria refletida na tua superfície pálida e fria seria a luz artificial dos homens. Gerada por suas tecnologias. A mim, restaria brilhar soberano pelos prados e florestas sem luz, pois a pouca luz que crio e gero é minha, é própria.... E não refletida dos outros seres ou astros.
O pirilampo deu as costas à quilométrica esfera e deixou-a sozinha com seus lamentos e injúrias proferidos, esperando assim tê-la convencido de que não é preciso ter muito na vida para ser feliz. Não que tenhamos de satisfazermo-nos com pouco, mas se esse "pouco" é teu e te faz feliz... contenta-te então com ele.